Parte dos
poemas de "Primeiros cantos" e "Segundos cantos"; o drama Patkull; e "Beatriz de
Cenci", depois rejeitado por sua condição de texto "imoral" pelo Conservatório
Dramático do Brasil, também foram escritos nessa época ainda em
Coimbra.
No ano
seguinte ao seu retorno ao Brasil, conheceu aquela que seria a sua grande
musa inspiradora: Ana Amélia Ferreira Vale. Várias de suas peças românticas,
inclusive “Ainda uma vez — Adeus” foram escritas para ela.
Nesse mesmo
ano ele foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como professor de
história e latim do Colégio PedroII.
Além de ter
atuado como jornalista, contribuiu para diversos periódicos, como: Jornal
do Commercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia. Neles
publicou crônicas, folhetins teatrais e crítica literária.
Em 1849 fundou
com Manuel de Araújo Porto-Alegre e Joaquim Manuel de Macedo a revista
Guanabara, que divulgava o movimento romântico da época.
Em 1851 voltou
a São Luís do Maranhão, a pedido do governo para estudar o problema da instrução
pública naquele estado.
Gonçalves Dias
pediu Ana Amélia em casamento em 1852, mas a família dela, em virtude da
ascendência mestiça do escritor, não aceitou o pedido. e o refutou
veementemente.
No mesmo ano
retornou ao Rio de Janeiro, onde casou-se com Olímpia da Costa. Logo depois foi
nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros. Passou os quatro anos
seguintes na Europa realizando pesquisas em prol da educação nacional. Voltando
ao Brasil foi convidado a participar da Comissão Científica de Exploração, pela
qual viajou por quase todo o norte do país.
Voltou à
Europa em 1862 para um tratamento de saúde. Não obtendo resultados retornou ao
Brasil em 1864 no navio Ville de Boulogne, que naufragou na costa brasileira;
salvaram-se todos, exceto o poeta, que foi esquecido, agonizando em seu leito, e
se afogou. O acidente ocorreu nos Baixos de Atins, perto de Tutóia, no
Maranhão.
Selo Comemorativo
Gonçalves e os amigos
Manuel Araújo PortoAlegre e
Gonsalves De Magalhães
Mapa e
Monumento em SãoLuis - Maranhão
Rótulo de
cigarro
Pensamentos
"Amizade!
União,virtude,encanto,consórcio do querer,da força,da alma."
"Se o duro
combate os fracos abate, aos fortes, aos bravos, só pode exaltar."
"Não chores,
meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida: Viver é
lutar."
( Canção do Tamoio)
Gonçalves Dias
Julgamentos
Críticos:
De
Alexandre Herculano
"Os primeiros cantos são um belo livro; são
inspirações de um grande poeta. A terra de Santa Cruz, que já conta outros no
seu seio, pode abençoar mais um ilustre filho. O autor, não o conhecemos; mas
deve ser muito jovem. Tem os defeitos do escritos ainda pouco amestrado pela
experiência: imperfeições de língua, de metrificação, de estilo. Que importa? O
tempo apagará essas máculas, e ficarão as nobres inspirações estampadas nas
páginas deste formoso livro.
Abstenho-me de
outras citações, que ocupariam demasiado espaço, não posso resistir à tentação
de transcrever das Poesias Diversas uma das mais mimosas composições líricas que
tenho lido na minha vida. (Aqui vinha transcrita a poesia Seus Olhos.) Se estas
poucas linhas, escritas de abundância de coração, passarem, os mares, receba o
autor dos Primeiros Cantos testemunho sincero de simpatia, que não costuma nem
dirigir aos outros elogios encomendados nem pedi-los para si".
De José de Alencar
"Gonçalves Dias é o poeta nacional por excelência: ninguém
lhe disputa na opulência da imaginação, no fino lavor do verso, no conhecimento
da natureza brasileira e dos seus costumes selvagens" (Iracema)
De Machado de
Assis
"Depois de
escrita a revista, chegou a notícia da morte de Gonçalves Dias, o grande poeta
dos Cantos e dos Timbiras. A poesia nacional cobre-se, portanto, de luto. Era
Gonçalves Dias o seu mais prezado filho, aquele que de mais louçania a cobriu.
Morreu no mar-túmulo imenso para talento. Só me resta espaço para aplaudir a
ideia que se vai realizar na capital do ilustre poeta. Não é um monumento para
Maranhão, é um monumento para o Brasil. A nação inteira deve concorrer para ele.
(Crônicas em Diário do Rio de Janeiro, de 9 de novembro de 1894.)
* * * * *
Todas as
obras
Poesia
1846: Primeiros
Cantos, Rio de Janeiro, Laemmert.
1848: Segundos Cantos, Rio de Janeiro,
Ferreira Monteiro.
1851: Últimos Cantos, Rio de Janeiro, Paula Brito.
1857: Os Timbiras, Leipzig, Brockhaus
1857: Cantos, Leipzig, Brockhaus.
(contendo todos os cantos anteriores
e mais 16 novas
composições sob o título de ‘’Novos Cantos’’).
1969: Lira Varia , in “Obras
Póstumas’’, 1869. (poesias inéditas).
Teatro
1843: Patkull, in “Obras Póstumas’’, 1869.
1845: Beatriz Cenci, in “Obras Póstumas’’, 1869.
1846: Leonor de
Mendonça, Rio de Janeiro, Villeneuve & Cia, 1847.
1850: Boabdil, in
“Obras Póstumas’’, 1869.
Romance
1850: Meditação (fragmento), in Guanabara, Rio de
Janeiro,
Tip.
Guanabarense. Apareceria completo in “Obras Póstumas’’, 1869.
1843: Memórias
de Agapito, in “Obras Póstumas’’, 1869.
1843: Um Anjo, in “Obras Póstumas’’,
1869.
Dicionário
1858: Dicionário da língua Tupi, Leipzig,
Brockhaus.
Etnografia
e História
1846: O Brasil e Oceania, in “Obras Póstumas’’, 1869.
1869:
História Pátria, in “Obras Póstumas’’, 1869.
(trata-se
de uma coleção de críticas selecionadas
cujo título
História Pátria é atribuída pelo organizador.
Falsas
atribuições
Segura o Índio louco é um título
que vem
sendo falsamente atribuído à Gonçalves Dias
através da web
internet, entretanto não existem fontes
que comprovem a
sua existência, nem se terá existido.
Todas as obras
do poeta foram publicadas por ele próprio
ou
postumamente as inéditas numa organização
do seu
amigo Antônio Henriques Leal à custódia da esposa do poeta.
Obras
notáveis
Canção do Exílio in Primeiros Cantos’’.
Ainda uma vez – Adeus”
in Cantos’’.
Sextilhas de Frei Antão in Segundos Cantos’’.
Seus Olhos
Os Timbiras
I-Juca-Pirama in Últimos Cantos’’.
Canção do
Exílio
Gonçalves
Dias
Minha terra tem
palmeiras,
Onde Canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorgeiam
como lá.
Nosso céu tem
mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais
vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar,
sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem
palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem
primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à
noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta
o Sabiá.
Não permita
Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os
primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde
canta o Sabiá.
Ainda Uma Vez -
Adeus
Gonçalves
Dias
I
Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não
cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de
ti!
II
Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas
asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se
condói do infeliz!
III
Louco, aflito, a saciar-me
D'agravar minha ferida,
Tomou-me
tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No
último arcar da esperança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e
vivi!
IV
Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de
tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto
amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar
correr a teus pés.
V
Mas que tens? Não me conheces?
De mim afastas teu rosto?
Pois
tanto pôde o desgosto
Transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto
pode,
Sei quanto ela desfigura,
E eu não vivi na ventura...
Olha-me
bem, que sou eu!
VI
Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendida?
Deste-me
amor, e a vida
Que me darias - bem sei;
Mas lembrem-te aqueles feros
Corações, que se meteram
Entre nós; e se venceram,
Mal sabes quanto
lutei!
VII
Oh! se lutei!... mas devera
Expor-te em pública praça,
Como um
alvo à populaça,
Um alvo aos dictérios seus!
Devera, podia acaso
Tal
sacrifício aceitar-te
Para no cabo pagar-te,
Meus dias unindo aos teus?
VIII
Devera, sim; mas pensava,
Que de mim t'esquecerias,
Que, sem
mim, alegres dias
T'esperavam; e em favor
De minhas preces, contava
Que o bom Deus me aceitaria
O meu quinhão de alegria
Pelo teu,
quinhão de dor!
IX
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto,
Arfa-te
o peito, e no entanto
Nem me podes encarar;
Erro foi, mas não foi crime,
Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória
por te amar!
X
Tudo, tudo; e na miséria
Dum martírio prolongado,
Lento, cruel,
disfarçado,
Que eu nem a ti confiei;
"Ela é feliz (me dizia)
"Seu
descanso é obra minha."
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me
enganei!
XI
Tantos encantos me tinham,
Tanta ilusão me afagava
De noite,
quando acordava,
De dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde pára?
Onde a ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
Tudo esse
engano desfez!
XII
Enganei-me!... - Horrendo caos
Nessas palavras se encerra,
Quando do engano, quem erra.
Não pode voltar atrás!
Amarga irrisão!
reflete:
Quando eu gozar-te pudera,
Mártir quis ser, cuidei qu'era...
E um louco fui, nada mais!
XIII
Louco, julguei adornar-me
Com palmas d'alta virtude!
Que tinha
eu bronco e rude
C'o que se chama ideal?
O meu eras tu, não outro;
Stava em deixar minha vida
Correr por ti conduzida,
Pura, na
ausência do mal.
XIV
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu, outro fora,
Pensar
que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz;
Pensar que a tua ventura
Deus ab eterno a fizera,
No meu caminho a pusera...
E eu! eu fui que
a não quis!
XV
És doutro agora, e pr'a sempre!
Eu a mísero desterro
Volto,
chorando o meu erro,
Quase descrendo dos céus!
Dói-te de mim, pois me
encontras
Em tanta miséria posto,
Que a expressão deste desgosto
Será um crime ante Deus!
XVI
Dói-te de mim, que t'imploro
Perdão, a teus pés curvado;
Perdão!... de não ter ousado
Viver contente e feliz!
Perdão da minha
miséria,
Da dor que me rala o peito,
E se do mal que te hei feito,
Também do mal que me fiz!
XVII
Adeus qu'eu parto, senhora;
Negou-me o fado inimigo
Passar a
vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve
Adeus!
XVIII
Lerás porém algum dia
Meus versos d'alma arrancados,
D'amargo
pranto banhados,
Com sangue escritos; - e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade
Que chores, não de saudade,
Nem de amor, -
de compaixão.

Seus Olhos
Gonçalves
Dias
Seus olhos, tão
negros, tão belos, tão puros,
de vivo luzir,
estrelas incertas,
que as águas dormentes
do mar vão ferir;
seus olhos tão
negros, tão belos, tão puros,
de meiga expressão
mais doce que a
brisa, — mais doce que a frauta
quebrando a soidão.
Seus olhos tão
negros, tão belos, tão puros,
de vivo luzir,
são meigos infantes,
gentis, engraçados
brincando a sorrir.
São meigos
infantes, brincando, saltando
em jogo infantil,
inquietos,
travessos; - causando tormento,
com beijos nos pagam a dor de um momento,
com modo gentil.
Seus olhos são
negros, tão belos, tão puros,
assim é que são;
às vezes luzindo,
serenos, tranqüilos,
às vezes vulcão!
Às vezes, oh!
sim, derramam tão fraco,
tão frouxo brilhar,
que a mim parece que
o ar lhes falece
e os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
me
fazem chorar.
Assim lindo
infante, que dorme tranqüilo,
desperta a chorar;
e mudo, sisudo,
cismando mil coisas,
não pensa — a pensar.
Nas almas tão
puras da virgem, do infante,
às vezes do céu
cai doce harmonia
duma harpa celeste,
um vago desejo; e a mente se veste
de pranto
co'um véu.
Eu amo seus
olhos tão negros, tão puros,
de vivo fulgor;
seus olhos que
exprimem tão doce harmonia,
que falam de amores com tanta poesia,
com tanto pudor.
Seus olhos tão
negros, tão belos, tão puros,
assim é que são;
eu amo esses olhos
que falam de amores
com tanta paixão.
Se te amo, não sei!
Gonçalves
Dias
Amar! se te
amo, não sei.
Oiço aí pronunciar
Essa palavra de modo
Que não sei o que
é amar.
Se
amar é sonhar contigo,
Se é pensar, velando, em ti,
Se é ter-te n'alma
presente
Todo esquecido de mim!
Se
é cobiçar-te, querer-te
Como uma bênção dos céus
A ti somente na
terra
Como lá em cima a Deus;
Se
é dar a vida, o futuro,
Para dizer que te amei:
Amo; porém se te
amo
Como oiço dizer, — não sei.
————
Sei que se
um gênio bom me aparecesse
E tronos, glórias, ilusões floridas,
E os
tesouros da terra me oferecesse
E as riquezas que o mar tem
escondidas;
E
do outro lado — a ti somente, — e o gozo
Efêmero e precário — e após a
morte;
E me dissesse: "Escolhe" — oh! jubiloso,
Exclamara, senhor da minha
sorte! —
"Que tesouro na terra há i que a iguale?
Quero-a mil
vezes, de joelhos — sim!
Bendita a vida que tal preço vale,
E que merece
de acabar assim!"
Gonçalves
Dias