Morava numa casa de vila. A primeira casa que dava pra rua, a rua
da minha infância. Era longa com seus trilhos de bonde. Minha Escola ficava
defronte de casa, era só atravessar a rua. Completei o jardim da infância e o
primário, ali juntinho. E foram anos memoráveis!
Nossa professora de piano, morava ao lado. Ambulantes passavam
vendendo doces: tringuilim, pirulitos de caramelo, quebra-queixo, etc, que era a
delícia da garotada. Éramos muitos...
Uma grande "turminha" animada e como! Uma "família" coesa e pronta
para o que desse e viesse.
Não havia discriminações nos grupos formados entre nós: nada de
rivalidades, nem medos. O dos adolescentes, do qual o meu irmão mais velho
Paulo, tomava parte e o das crianças, do qual me orgulho de ter pertencido,
junto ao meu irmão mais novo, Carlos.
Éramos um grupinho formidável, "idiches" e "goys". Brincávamos na
grande "avenida" no interior da Vila, aos olhos complascentes dos adultos e tios
de todo tipo, prontos para nos acudir se caíssemos ou nos machucássemos nas
quedas, que via de regra, eram muitas... Exemplo de união
verdadeira!
Pulávamos amarelinha todos os dias e comíamos bananas o dia
inteirinho só para usar as cascas no jogo, porque ficavam pretinhas no dia
seguinte. Brinvávamos de roda e de pique-bandeira que era o meu preferido.
Adorava! E fazíamos muitas competições de bicicletas e adoráveis passeios na
Quinta da Boa Vista que era ali bem pertinho.
Aos Sábados, nossas boas ações estavam garantidas. Acendíamos o
fogão para os israelitas que moravem por lá. Famílias maravilhosas, com um ou
dois filhos cada, gente simples, solidária, muito inteligentes, podia percebê-lo
ao fazer nossos deveres de casa junto aos amiguinhos de mesma série. Fraternais,
um exemplo de vida em família e para conosco, seus vizinhos e amigos. Foi um
excelente aprendizado em minha infância, conviver com meus amigos israelitas, e
poder, perceber que havia outros modos de vida que não os nossos, os quais
devíamos respeitar. Gostei de conviver com estas diferenças, embora fossse
carinhosamente chamada de "goy" pelos amigos mais levados... Nas horas de
turras... Que saudade de todos eles!
Como uma forma de carinho e agradecimento, pelo qual esperávamos
ansiosos, ganhávamos muitas balas dos adultos, para os quais prestávamos o
honroso serviço, a nosso entender, de acender o fogo aos Sábados. Cada um
contava as suas balas... Coisas de Crianças!
Quando chovia, e no verão aqui no Rio, chove muito, a rua alagava
todinha. Aquela região até hoje é fatal, sempre alaga. A água chegava muitas
vezes ao portão de casa. Então era a glória total: banhos de chuva, barquinhos
de papel, brinvadeiras com água. Que criança que não gosta de água de chuva, né?
Ficávamos das janelas apreciando a enxurrada levar os carros que dormiam fora
das garagens,
e
seus donos a correrem desesperados atrás deles, até o final da rua e que na
maioria das vezes ficavam amassados. Era animada assim a rua da minha infância.
Quantas recordações ainda tenho para contar...
@Mensageir@
Carinhosamente,
Nidia.