
CONTOS DA
MINHA VIDA EM FAMÍLIA
MACACO VELHO... NÃO PÕE A MÃO...
Nídia Vargas Potsch
Numa bela tarde de primavera, por volta de 1928, vovó Albertina saiu
em companhia do vovô Seraphim. As quatro meninas, suas três filhas e
sobrinha, dentre elas, minha mãe, ficaram em casa com a bizinha
Joaquina. Passaram a tarde, como de hábito, estudando e fazendo os
deveres da escola. Mas o tempo passou rápido aquele dia. Por fim,
com tudo pronto, resolveram aprontar...e se lembraram que os pais
não estavam em casa.
Poderiam "zoar" bem à vontade... Que maravilha! Uma tarde inteirinha
fuçando as coisas do vovô... Meus avós moravam naquela época num
sobrado no Centro do Rio de Janeiro, na rua Senador Eusébio, esquina
com a rua Marquês de Sapucaí, na famosa Praça Onze. Lá vovô também
possuia seu bem localizado Armazém de Sêcos e Molhados, como se
chamava antigamente. Para se ter acesso ao armazém, bastava abrir
uma porta de ferro que dava para um corredor da sala de jantar e
descer uma escada. Ele ficava no andar térreo junto à rua.
Foi o que as peraltas fizeram. Conseguiram abrir a porta e pé ante
pé, para não acordar a bizinha de sua sesta, esceram as escadas
escondidas. Mamãe estava com cerca de oito anos, tia Emília com uns
sete, prima Izabel também. E a menorzinha delas, tia Beatriz, com
uns seis aninhos. Ah! Delícia das Delícias !!!
Beberam Groselha e Capilé até se fartarem... Comeram açúcar mascavo
de montão e encheram os bolsos de açucar Candy. E a farra
continuava... Revistaram e provaram de tudo... rs rs. Até que a
Emilinha, a mais travessa e gulosa delas, viu um latão de ameixas
pretas francesas, em calda, aberto em cima do balcão, não precisou
dizer mais nada... Subiu num banquinho e de lá direto ao balcão.
Como não viu colher ou concha para se servir, não teve dúvidas...
tratou de enfiar sua mãozinha no latão... mas... não dava...
resolveu enfiar o braço inteirinho. Comia duas e dava uma a cada uma
das outras meninas.
No melhor da festa, ouviu-se um barulho de passos na escada e os
olhos severos de vovô Seraphim apareceu imediatamente fitando a
todas... com suas carinhas lambuzadas de calda de ameixas. Neste
instante, o bracinho foi recolhido e pingando calda, ficou escondido
atrás do vestidinho caseiro, molhando tudo, o balcão, a roupa, o
chão e lágrimas de medo e susto, escorriam por seus lindos olhos
castanhos. Vovô apenas olhou para as quatro.Tirou a filha de cima do
balcão, apanhou a grande lata com as duas mãos pois era muito pesada
e foi com ela lá para cima, sem dizer uma palavra se quer ou olhar
para trás... As meninas, uma a uma, subiram as escadas correndo de
volta para casa e fecharam a porta de ferro o mais rápido que
puderam a espera do castigo. Durante mais de quinze dias a sobremesa
era só: doce de ameixas, pudim de ameixas, bôlo de ameixas,
rocambole de ameixas.
AMEIXAS ! AMEIXAS ! AMEIXAS ! Até ninguém aguentar mais... rs.
OBS: Vovô Seraphim era muito compreensivo com as crianças. Afinal,
segundo ele, travessura era sinal de saúde. Fui educada assim. Por
pessoas especiais e maravilhosas de se conviver. Ao repreender seus
netinhos (as) não se esqueçaa de que vc também foi criança um dia.
* * *

@Mensageir@
RIO, 8/11/2001
Agradecendo a Rosimary Santos o carinho do envio do lindo back com
midi.
VOLTAR
|