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CONTOS DE MINHA VIDA
EM
FAMÍLIA: UM SIMPLES CABIDE...
Nídia Vargas Potsch
Numa
noite fria e chuvosa de junho, acordamos todos com gritos de SOCORRO
vindos da rua. Era uma voz desconhecida de
mulher. Papai e mamãe
correram para a janela da sala e espiaram por trás das persianas para
poder ver o que estava acontecendo. Nestas alturas a bi-vó Joaquina
também estava por lá com sua camisola longa de
babadinhos... Simplesmente
levaram um susto ao ver um casal brigando justamente na varanda de nossa
casa... Não é que a mulher, desesperada, fugindo do marido bêbado, abriu o
portãozinho do jardim e entrou em nossa varanda?
Aqui
cabe uma explicação: estou me referindo ao primeiro apartamento onde
morei em criança, aquele da rua Senador Furtado, perto do Maracanã. Era um
apartamento térreo que possuía um pequeno jardim e cinco degraus que davam
para uma varandinha antes de chegar a porta de entrada do
mesmo. Papai ficou indignado ao ver a cena. O agressor, com uma faca na mão tipo facão de cozinha, brilhando na luz dos trovões e raios, cutucava a barriga da mulher grávida que estava agachada no cantinho da varanda e portanto, encurralada.
Quanto mais ele ameaçava espetá-la, mais ela gritava. SOCORRO!
SOCORRO! Ele qué me matá. A um sinal estranho de vó-bisa,
papai não teve dúvidas, saiu correndo da sala para o
escritório e voltou correndo também. Abriu parte da janela e da
persiana e deu uma forte "bordoada" nas costas do
indivíduo.
Com
sua voz de barítono, forte até hoje, disse: Ou pára ou morre! Seu covarde!
Vou te espetar também pra você ver o que é bom...
O homenzinho deu um pulo pra trás, largou imediatamente a faca no chão e
passou a gritar feito um louco: ele qué matar eu... Não me mata não
dotô! Tô só dando um exemplo nela... meu jantá tá queimado.
Foi de tanto
esperá este bêbado no fogão. Agora ele que coma
assim, berrou a
mulher!
Os vizinhos iam chegando aos poucos, todos com roupas de dormir,com
roupões por cima. A confusão estava armada! A polícia foi chamada.
Claro que todos estavam ao lado de papai que era muito querido na vila. E qual não foi o espanto da polícia quando o bêbado disse que papai o ameaçou com uma "peixeira" e das grandes... dizendo que papai estava armado... Papai explicou aos policiais que para atingir o sujeito que estava um pouco longe da janela, teve que usar um cabide velho e que deu uma forte lambada nas costas do mesmo para evitar um crime horrendo.
Os policiais lhe deram
razão total, aceitaram as explicações e depois de algum tempo de mais
conversas, foram para a cozinha tomar um cafezinho quente porque
estava muito frio.
As crianças foram mandadas para a cama.Mas quando ia para o quarto e
passei em frente ao escritório,olhei no corredor e vi-a apoiada na
parede brilhante como sempre...
Inocentemente
corri a gritar por papai : PAIÊ !!! O que é que a espada do bi-vô,
da Guerra do Paraguai,tá fazendo no chão?
Psiu menina! Vá se deitar! Ela caiu... Amanhã eu ajeito o prego. Hoje ela
nos foi muito útil! Rs rs
...
OBS: Assim é papai...rs... brincalhão até nas horas sérias. Hoje
está com mais de 90 anos. Seu mais novo brinquedinho é seu PC.
Vai da rede para o micro e dela para a TV. Sempre contando seus casos
que irei contar para vcs tb. Quanto a vó-bizinha, o gesto que
ela fez foi o de degolar um homem, apenas passou o dedo indicador pelo
pescoço o que foi o bastante para o papai se lembrar da velha espada que
até hoje serve de enfeite e souvenir na parede de seu escritório. VELHA E
ÚTIL ESPADA !
@Mensageir@
Rio, 3/03/2002
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